MOURA, L. R. C., CUNHA. N. R. S., MOURA, L. E. L. As características que incentivam a adoção da água mineral e aprimoramento de uma escala para mensuração das características que incentivam a adoção de novos produtos. Anais... XIII SEMEAD, setembro de 2010
3. REVISÃO TEÓRICA
3.1 ADOÇÃO E DIFUSÃO DE UM NOVO PRODUTO
É importante conhecer e entender o processo de adoção (decisões individuais que a
pessoa toma antes de aceitar um produto) e difusão (processo de divulgação do novo produto
na sociedade) de um novo produto pelo possível cliente (ETZEL, WALKER e STANTON,
2001), lembrando que o processo de adoção por parte do consumidor começa quando se
encerra o processo de inovação por parte da empresa. De acordo com a visão dos
consumidores, um novo produto é aquele que é percebido como diferente quando comparado
com os produtos atuais (BLACKWELL, MINIARD e ENGEL, 2005).
Conforme Sheth, Mittal e Newman (2001), o processo de adoção é dividido em quatro
etapas: consciência, interesse, desejo e ação. Nesse caso, o consumidor passa por esses quatro
estágios, os quais possuem uma hierarquia. Assim, em um primeiro momento os
consumidores tomam consciência a respeito do novo produto. Em seguida ficam interessados
pelos mesmos e posteriormente se sentem atraídos e compram esse novo produto.
O ciclo de vida de um produto vem diminuindo em função do dinamismo e velocidade
do mercado. Antigamente, os veículos eram projetados para ficarem cerca de dez anos no
mercado, hoje novos modelos são lançados a cada dois anos, o que significa que possíveis
clientes devem ser rapidamente identificados para o início, meio e fim do ciclo de vida do
produto. As inovações são classificadas em relação ao comportamento dos consumidores em
três categorias (SOLOMON, 2005; BLACKWELL, MINIARD e ENGEL, 2005):
- Inovação Contínua: são pequenas modificações que ocorrem nos produtos atuais.
Caracterizam-se por serem simples extensões de linha, oferecendo novas
oportunidades de escolha e representam pequenas mudanças nos hábitos de consumo.
- Inovação Dinamicamente Continua: significa uma mudança mais pronunciada do que
a inovação contínua e que influencia nos hábitos de vida e no manuseio dos produtos.
- Inovação Descontínua: são produtos que criam grandes mudanças na vida da
população. São produtos realmente inovadores – e não somente uma versão melhorada
dos atuais - no sentido de que substituem de forma plena os produtos anteriores.
Em relação ao caráter revolucionário dos produtos, segundo Aggarwal, Cha e
Wilemon (1998) quanto maior o nível de ruptura dos novos produtos, pior tende a ser sua
avaliação pelos consumidores. Isto explica porque alguns produtos em um primeiro momento
são mal avaliados e, com o passar do tempo, são melhor avaliados pelo público e consumidos
em maior ou larga escala. Além disso, uma grande ruptura torna o processo de busca de
informações por parte dos consumidores mais lento, incerto e trabalhoso.
3.2 O MODELO DE DIFUSÃO DE INOVAÇÕES E AS CARACTERÍSTICAS QUE
AFETAM A TAXA DE ADOÇÃO
O Modelo de Difusão de Inovações (MDI) (ROGERS, 1983) está relacionado em
como as inovações, sejam elas idéias ou atividades, são consideradas como algo realmente
novo e são difundidas em um grupo social por meio de canais de comunicação. Este modelo
está dividido em quatro grupos principais:
a) A inovação, onde algumas características influenciam diretamente a velocidade
na qual uma inovação vai ser difundida: a existência de grandes vantagens em
relação ao antigo; se o novo é compatível com as crenças e valores dos
indivíduos; a facilidade de entendimento, compreensão e adaptação por parte dos
indivíduos; se o novo é observável ou tangível; e, se o novo pode ser dividido
para ser melhor compreendido (ROGERS et al., 2008).
b) Os canais de comunicação, que correspondem aos meios pelos quais as
informações são transmitidas de um indivíduo para o outro. A utilidade dos
diferentes canais de comunicação depende do objetivo específico da
comunicação. No caso de mudança de crenças e atitudes em relação à inovação,
a comunicação interpessoal em geral apresenta melhores resultados, enquanto
que para a difusão de inovações, a comunicação de massa é a mais indicada.
c) O tempo influencia tem três papéis no MDI. Primeiramente é um dos fatores que
definem a quantidade de informação a ser buscada por uma pessoa. Além disso,
ele influencia na formação das cinco categorias de adotantes (inovadores,
adotantes iniciais, maioria inicial, maioria tardia e retardatários). Por fim, ele
também possui um papel importante na própria taxa de adoção de novos
produtos por meio da velocidade de adoção por parte das pessoas em um período
definido de tempo.
d) O sistema social. A sua própria estrutura (grupos organizados ou informais, por
exemplo) e as suas normas internas, influenciam na velocidade, tempo e
processo de adoção de novas idéias ou práticas dentro de um sistema social
formado por várias unidades com o intuito de atingir o mesmo objetivo.
Dentro do grupo Inovação, existem cinco características que podem afetar o processo
de adoção ao novo produto, principalmente se ele for uma inovação no mercado (ROGERS,
1983; GUPTA, ROGERS, 1991). São elas:
- Vantagem relativa: Grau de vantagem que uma inovação oferece em relação aos
produtos disponíveis no mercado, formada pelos consumidores ao comparar os novos
produtos com os já existentes tem grande influência na taxa de adoção. Esta vantagem
pode estar presente no custo mais baixo, segurança oferecida, facilidade de uso, etc.
Para Blackwell, Miniard e Engel (2005) e Solomon (2005), esta é a mais importante característica que os novos produtos devem ter em relação aos convencionais.
- Compatibilidade: grau em que o produto é compatível com os valores e experiências
dos indivíduos da comunidade. A incompatibilidade pode surgir quando os produtos
utilizados atualmente não atendem as necessidades e expectativas dos consumidores
(AGGARWAL, CHA e WILEMON, 1998).
- Complexidade: Pode ser entendida como o grau de dificuldade que os consumidores
sentirão para utilizar o novo produto, isto significa que quanto mais complexo o
produto for percebido pelos clientes, mais demorada será a sua adoção. Em países
onde o nível de educação e/ou alfabetização é baixo, a alta complexidade percebida
pelo público-alvo pode diminuir a taxa de adoção de alguns produtos. Equipamentos
eletrônicos têm problemas em relação a esta característica, uma vez que a dificuldade
em entender e/ou utilizar um novo produto pode atrapalhar sua adoção pelos
consumidores. A dificuldade e o nível técnico das instruções contidas nos manuais dos
novos produtos também são importantes para a formação dessa característica.
- Possibilidade de experimentar (divisibilidade): Caracteriza-se pela capacidade de um
novo produto ser experimentado com pouco esforço (tempo, recursos financeiros,
conhecimento e afins). Geralmente os produtos mais caros têm taxa de adoção menor
ou mais lenta por causa desta característica, ou seja, quanto maior a possibilidade do
cliente experimentar e testar um novo produto, desconsiderando as outras
características, melhor será seu percentual de adoção. As amostras grátis são um ótimo
instrumento para auxiliar na experimentação por parte dos clientes.
- Comunicabilidade: Expor um produto em funcionamento aumenta a taxa adoção. Se
os resultados do uso do novo produto são facilmente identificados pelos indivíduos, e
comunicados pelos mesmos, então a possibilidade de sucesso de novo produto é bem
maior. É importante identificar o nível de percepção dos benefícios de um novo
produto por parte do seu mercado potencial.
Além das características citadas acima, Peter e Olson (1999) descrevem outras duas
características que afetam a taxa de adoção de novos produtos:
- Velocidade: refere-se à rapidez que os benefícios do novo produto poderão ser
observados ou percebidos pelos consumidores. Isso é importante, pois, muitos
consumidores não querem esperar muito tempo para poderem sentir e experimentar os
benefícios de um produto. Um exemplo clássico são os programas de emagrecimento,
que prometem resultados em uma semana.
- Simbolismo: diz respeito ao que significa para o consumidor a utilização de um novo
produto ou uma nova marca. Esse significado é formado ao comprar ou utilizar esse
novo produto. Nesse caso, os significados sociais e psicológicos são mais importantes
do que as características técnicas do produto.
Para Mowen e Minor (2003, p.286):
Os mesmos fatores que influenciam o provável sucesso de uma inovação também
influenciam a rapidez com a qual ela é adotada. O produto será adotado mais
rapidamente à medida que satisfizer uma necessidade, for compatível, tiver uma
vantagem relativa, for compatível, tiver uma vantagem relativa, for menos
complexo, tiver aspectos positivos notáveis e puder ser facilmente experimentado.
De acordo com Seth, Mittal e Newman (2001), as principais resistências às inovações
são o hábito e o risco. Em relação ao primeiro, pode-se considerar que o consumidor age de 7
uma determinada maneira, aprendida anteriormente, sempre que se encontra na mesma
situação anterior ou é estimulado da mesma forma novamente.
Em relação aos riscos são percebidos como algo que pode dar errado ou como
conseqüências indesejáveis de uma ação de compra e utilização dos produtos. Os mesmos
foram classificados como riscos de desempenho, onde os produtos não apresentam o
desempenho anteriormente previsto por parte dos consumidores. Além disso, tem-se também
os riscos sociais, ou seja, a preocupação com a opinião e aprovação dos indivíduos que
formam a sociedade, classes social, família, grupos de convívio e afins, nos quais o
consumidor pertence ou se relaciona (SETH, MITTAL e NEWMAN, 2001).
Outro aspecto destacado por Aggarwal, Cha e Wilemon (1998) é que a adoção de
novos produtos requer uma aprendizagem dos consumidores acerca dos mesmos (às vezes
requer até mesmo um grande esforço cognitivo). Assim, a possibilidade do cliente
experimentar um produto pode ser fundamental para que o consumidor possa conhecê-lo
melhor. Outro ponto a ser considerado é que a comunicabilidade também é fundamental para
que o público-alvo não só possa receber a informação pertinente, mas também tenha
condições de compreendê-la e memorizá-la. Além disso, Chao e Gupta (1995) e Ahmed et al.
(2004) descrevem a importância do país de origem do produto. Esse fator, de acordo com
estes pesquisadores influencia fortemente a taxa de adoção de produtos estrangeiros em novos
mercados e as crenças, percepções e atitudes dos consumidores em relação ao seu país de
origem.
3.3 ENVOLVIMENTO
O significado do conceito de envolvimento possui diferentes conteúdos entre os
estudiosos. Isso se deve ao fato de que o próprio construto nível de envolvimento ser utilizado
em aplicações distintas, o que gera diferenças conceituais. Essas aplicações são, basicamente:
envolvimento com a publicidade ou propaganda, envolvimento com os produtos e
envolvimento com a decisão de compra. De acordo com Zaichkowsky (1985),
independentemente do contexto utilizado, a construção de uma medida de envolvimento deve
captar as diferenças entre os indivíduos (interesses, valor e necessidades perante o objeto),
objetos (características distintivas) e situações (fatores temporais que aumentam ou diminuem
a relevância perante o objeto). Assim, diferenças no envolvimento com os produtos, fazem
com que as pessoas prestem mais atenção, criem maior importância e se comportem de forma
diferente no processo decisório, na escolha dos produtos nas mensagens de comunicação, etc.
(ZAICHKOWSKY,1986). Nesta pesquisa, é utilizado o mesmo conceito de Zaichkowsky
(1985), o qual foi usado para a criação de uma escala de mensuração das atitudes. Assim,
envolvimento é “a percepção de uma pessoa a respeito da relevância de um objeto baseado
nas suas necessidades, valores e interesses inerentes” (ZAICHKOWSKY,1985, p.342).
Em 1990, Zaichkowsky criou outra versão da escala, desta vez com dez opções. Havia
muitos itens redundantes. Portanto, para medir o envolvimento, os dez itens gerados seriam
suficientes. Em 1995, Mittal realizou um teste com a adaptação de quatro escalas diferentes,
entre elas a de Zaichkowsky. Os resultados foram animadores, sendo que essa escala adaptada
apresentou os maiores níveis de confiabilidade interna e de explicação da variância.
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